É trágica aquela clássica cena do homem desesperado implorando o amor de sua amada dizendo que faria qualquer coisa por ela, que mataria e que morreria se fosse preciso. Ele tem certeza que ninguém vai amá-la mais do que ele a amou, e que ninguém jamais será capaz de fazer tudo que ele faria por ela. Então, por que ela não reconhece isso? Porque ela o despreza? A explicação para essa triste cena está nos nossos genes.
Somos programados para valorizar e voltar nossa atenção àquilo que nos falta, e, cuja ausência, ameaça nossa sobrevivência e bem estar. É uma lógica muito simples, porém eficiente e econômica. Necessitamos de uma série de coisas para sobrevivermos: água, ar, comida, abrigo, afeto, etc. E precisamos de todas elas em diferentes graus. Tente imaginar a melhor maneira de administrar essas necessidades essenciais. O que é mais importante que o quê? A qual delas deve ser dada maior atenção? Você pode imaginar o quanto quiser, e vai concluir que a maneira mais econômica e eficiente de se administrar essas necessidades é dando atenção primordial àquelas que ainda não estão sendo supridas. Aquelas que já estão supridas não representam um perigo imediato à sobrevivência, portanto o melhor a fazer é voltar-se àquelas que ainda o são. E a evolução da nossa espécie entendeu isso. Assim, compreende-se o porquê não damos valor ao ar que respiramos, por exemplo. Pense: quando foi a última vez em que parou, deu uma profunda inspirada e refletiu no quanto o ar que você respira é a coisa mais importante em toda sua vida? Podemos sobreviver dias sem afeto, abrigo, comida e água, mas mal podemos ficar um minuto sem ar. Ele é, sem dúvida, a coisa mais importante que existe para nós. Importante, mas sem valor.
Esse caminho que a seleção natural percorreu parece ter nos programado para uma administração de necessidades eficiente, econômica, mas com um estranho efeito colateral. Já tentei definir o conceito “importância” no parágrafo anterior. A importância de uma coisa que necessitamos esta relacionada com a magnitude do impacto negativo que a ausência desta terá em nossas vidas. O ar é mais importante que a comida porque a ausência dele tem um impacto maior e mais imediato na nossa sobrevivência e bem estar. Valor é definido aqui de uma forma diferente. O ar não é tão valioso quanto a comida porque o ar é muito mais disponível e abundante. Apesar de importante, ele não é valioso. A nossa forma natural de administrar necessidades nos fez criar uma espécie de peso para cada uma delas. Um valor. Esta forma de avaliar as coisas não está relacionada com sua importância real, mas com sua disponibilidade. Fomos programados para ocupar a mente com aquilo que nos falta. Os recursos que pensamos ser infinitos não têm nosso apreço. Estarão sempre lá.
Hoje batalhamos por nossa sobrevivência mês a mês. Um salário garante isso para a maioria das pessoas. Há milênios atrás as coisas eram bem diferentes. Éramos pressionados a reagir às contingências do ambiente de forma eficiente e econômica, talvez por isso desenvolvemos esta maneira de administrar nossas necessidades. O que realmente importava era aquilo que ameaçava nossa sobrevivência de forma mais imediata. Hoje a maioria das pessoas tem garantidas as suas necessidades mais importantes sem precisar correr com uma lança por ai atrás de animais selvagens. Creio que essa mudança radical no nosso ambiente tenha permitido a manifestação dos efeitos colaterais do nosso modo de administrar necessidades. A tendência natural é que o valor das coisas tenha um peso maior nas nossas decisões do que sua importância. O valor, definido pela escassez, rege nossa preferência por este ou aquele recurso. Um recurso raro nos é mais atraente que um recurso abundante. Desejamos mais o que é escasso ao que é muito disponível. Um diamante desperta muito mais nossa vontade de possuí-lo do que a água. Aqui caímos em um conceito da economia, mas cuja origem creio estar na nossa maneira de funcionar, determinada pela nossa evolução e escrita em nossos genes.
Lembro de um episódio de Duck Tales que exemplifica bem o que quero dizer. Tio Patinhas, o pato rico, deixou cair acidentalmente sua moeda da sorte de um avião enquanto viajava. A moeda foi parar numa ilha em que habitavam selvagens que nunca haviam tido contato com o mundo “civilizado”. Pois bem, o selvagem que encontrou a moeda logo tornou-se o rei da ilha, pois todos consideravam que ele possuía algo divino. A moeda, única, passou a ser cobiçada por todos que pretendiam tomar o lugar do rei. Logo a ilha virou uma confusão. Tio patinhas, ao chegar na ilha, viu a confusão e logo descobriu a maneira de resgatar sua moeda e restaurar a ordem. Mandou um avião despejar milhares de cópias da sua moeda na ilha. Assim, todos passaram a possuir uma “moeda divina”, e, portanto, sua posse deixou de representar algo especial. Tudo voltou ao normal.
Precisamente este é o efeito colateral ao qual me refiro quando digo que nossa maneira de administrar necessidades tomou um caminho estranho. Pensar em termos de valor (muito mais do que importância) nos levou a ultra-estimar algumas coisas apenas pelo fato de serem escassas. Isto basta para que elas sejam desejadas por todos e confiram poder social ao possuidor. Volto a citar as jóias (como o diamante, por exemplo), elas não favorecem de forma alguma nossa sobrevivência ou bem estar, a não ser em contexto social onde muitas pessoas as valorizem. O poder de uma jóia é, portanto, virtual. Existe somente na mente das pessoas. Já a água, por exemplo, com toda sua abundância, sustenta toda vida no planeta. Tem poder real sobre a ela.
Retomando a pergunta inicial deste texto, porque uma mulher desvalorizaria um homem que a oferece tudo que tem, material e afetivamente? A resposta é: tudo que está disponível e em abundância não tem nosso especial apreço, não nos chama atenção. É assim que funcionamos. Claro que isto não explica totalmente a complexidade das relações sociais, onde inicia a atração entre duas pessoais e como ela se desenvolve. Mas acredito que ao menos parte da questão inicial deste texto possa ser explicada através do princípio de valor x importância. Tudo que nos é garantido não precisa da nossa atenção ou apreço, mesmo que estas coisas sejam juras de amor. O valor destas juras está na sua disponibilidade. Ela esteve e sempre estará lá, ou ela é algo que precisa ser conquistada a algum custo? Assim será definido o seu valor. Alguém que doa de forma generosa e sem restrições todo seu amor muito cedo em uma relação, antes mesmo de se certificar que existe uma reciprocidade, está sob sério risco de protagonizar a triste cena descrita no inicio deste texto.
Somos programados para valorizar e voltar nossa atenção àquilo que nos falta, e, cuja ausência, ameaça nossa sobrevivência e bem estar. É uma lógica muito simples, porém eficiente e econômica. Necessitamos de uma série de coisas para sobrevivermos: água, ar, comida, abrigo, afeto, etc. E precisamos de todas elas em diferentes graus. Tente imaginar a melhor maneira de administrar essas necessidades essenciais. O que é mais importante que o quê? A qual delas deve ser dada maior atenção? Você pode imaginar o quanto quiser, e vai concluir que a maneira mais econômica e eficiente de se administrar essas necessidades é dando atenção primordial àquelas que ainda não estão sendo supridas. Aquelas que já estão supridas não representam um perigo imediato à sobrevivência, portanto o melhor a fazer é voltar-se àquelas que ainda o são. E a evolução da nossa espécie entendeu isso. Assim, compreende-se o porquê não damos valor ao ar que respiramos, por exemplo. Pense: quando foi a última vez em que parou, deu uma profunda inspirada e refletiu no quanto o ar que você respira é a coisa mais importante em toda sua vida? Podemos sobreviver dias sem afeto, abrigo, comida e água, mas mal podemos ficar um minuto sem ar. Ele é, sem dúvida, a coisa mais importante que existe para nós. Importante, mas sem valor.
Esse caminho que a seleção natural percorreu parece ter nos programado para uma administração de necessidades eficiente, econômica, mas com um estranho efeito colateral. Já tentei definir o conceito “importância” no parágrafo anterior. A importância de uma coisa que necessitamos esta relacionada com a magnitude do impacto negativo que a ausência desta terá em nossas vidas. O ar é mais importante que a comida porque a ausência dele tem um impacto maior e mais imediato na nossa sobrevivência e bem estar. Valor é definido aqui de uma forma diferente. O ar não é tão valioso quanto a comida porque o ar é muito mais disponível e abundante. Apesar de importante, ele não é valioso. A nossa forma natural de administrar necessidades nos fez criar uma espécie de peso para cada uma delas. Um valor. Esta forma de avaliar as coisas não está relacionada com sua importância real, mas com sua disponibilidade. Fomos programados para ocupar a mente com aquilo que nos falta. Os recursos que pensamos ser infinitos não têm nosso apreço. Estarão sempre lá.
Hoje batalhamos por nossa sobrevivência mês a mês. Um salário garante isso para a maioria das pessoas. Há milênios atrás as coisas eram bem diferentes. Éramos pressionados a reagir às contingências do ambiente de forma eficiente e econômica, talvez por isso desenvolvemos esta maneira de administrar nossas necessidades. O que realmente importava era aquilo que ameaçava nossa sobrevivência de forma mais imediata. Hoje a maioria das pessoas tem garantidas as suas necessidades mais importantes sem precisar correr com uma lança por ai atrás de animais selvagens. Creio que essa mudança radical no nosso ambiente tenha permitido a manifestação dos efeitos colaterais do nosso modo de administrar necessidades. A tendência natural é que o valor das coisas tenha um peso maior nas nossas decisões do que sua importância. O valor, definido pela escassez, rege nossa preferência por este ou aquele recurso. Um recurso raro nos é mais atraente que um recurso abundante. Desejamos mais o que é escasso ao que é muito disponível. Um diamante desperta muito mais nossa vontade de possuí-lo do que a água. Aqui caímos em um conceito da economia, mas cuja origem creio estar na nossa maneira de funcionar, determinada pela nossa evolução e escrita em nossos genes.
Lembro de um episódio de Duck Tales que exemplifica bem o que quero dizer. Tio Patinhas, o pato rico, deixou cair acidentalmente sua moeda da sorte de um avião enquanto viajava. A moeda foi parar numa ilha em que habitavam selvagens que nunca haviam tido contato com o mundo “civilizado”. Pois bem, o selvagem que encontrou a moeda logo tornou-se o rei da ilha, pois todos consideravam que ele possuía algo divino. A moeda, única, passou a ser cobiçada por todos que pretendiam tomar o lugar do rei. Logo a ilha virou uma confusão. Tio patinhas, ao chegar na ilha, viu a confusão e logo descobriu a maneira de resgatar sua moeda e restaurar a ordem. Mandou um avião despejar milhares de cópias da sua moeda na ilha. Assim, todos passaram a possuir uma “moeda divina”, e, portanto, sua posse deixou de representar algo especial. Tudo voltou ao normal.
Precisamente este é o efeito colateral ao qual me refiro quando digo que nossa maneira de administrar necessidades tomou um caminho estranho. Pensar em termos de valor (muito mais do que importância) nos levou a ultra-estimar algumas coisas apenas pelo fato de serem escassas. Isto basta para que elas sejam desejadas por todos e confiram poder social ao possuidor. Volto a citar as jóias (como o diamante, por exemplo), elas não favorecem de forma alguma nossa sobrevivência ou bem estar, a não ser em contexto social onde muitas pessoas as valorizem. O poder de uma jóia é, portanto, virtual. Existe somente na mente das pessoas. Já a água, por exemplo, com toda sua abundância, sustenta toda vida no planeta. Tem poder real sobre a ela.
Retomando a pergunta inicial deste texto, porque uma mulher desvalorizaria um homem que a oferece tudo que tem, material e afetivamente? A resposta é: tudo que está disponível e em abundância não tem nosso especial apreço, não nos chama atenção. É assim que funcionamos. Claro que isto não explica totalmente a complexidade das relações sociais, onde inicia a atração entre duas pessoais e como ela se desenvolve. Mas acredito que ao menos parte da questão inicial deste texto possa ser explicada através do princípio de valor x importância. Tudo que nos é garantido não precisa da nossa atenção ou apreço, mesmo que estas coisas sejam juras de amor. O valor destas juras está na sua disponibilidade. Ela esteve e sempre estará lá, ou ela é algo que precisa ser conquistada a algum custo? Assim será definido o seu valor. Alguém que doa de forma generosa e sem restrições todo seu amor muito cedo em uma relação, antes mesmo de se certificar que existe uma reciprocidade, está sob sério risco de protagonizar a triste cena descrita no inicio deste texto.